Você sabia que em Balneário Gaivota os estabelecimentos comerciais estão proibidos de utilizar canudos de plásticos? E que não podemos alimentar os animais marinhos que encontramos na orla? Sabia que temos Campanha de coleta de lixo eletroeletrônico e Ecoponto para o recolhimento de pneus inservíveis? Essas e outras informações importantes foram explanadas em uma palestra muito bacana ministrada recentemente pela bióloga da prefeitura de Balneário Gaivota Adelsa Fernandes, para os alunos do Ensino Fundamental II da Escola Praia da Gaivota. Leia a entrevista completa realizada pela nossa aluna Yasmin do Carmo Pedroso, do 9º02.
Yasmin do Carmo Pedroso
A bióloga Adelsa Fernandes, 33 anos, reúne 12 anos de profissão. É formada na UNESC em Ciências Biológicas – habilitação em Licenciatura e Bacharelado, pós-graduada em Ecologia e Manejo de Recursos Naturais, vem à frente do Departamento de Meio Ambiente desde 2010, na Prefeitura de Balneário Gaivota. Adelsa visitou a nossa escola e fez uma longa explanação sobre meio ambiente. Alunos do 9º ano fizeram várias perguntas que foram respondidas pela bióloga. Confira abaixo a entrevista completa: Estadual Notícia – Observamos um grande número de animais marinhos em nossa orla. Por que eles vêm para cá? Adelsa Fernandes – Todos os anos, durante o inverno, de maio a setembro, muitos animais marinhos acostam na orla da nossa praia. A maioria deles são pinguins, lobos-marinhos e leões-marinhos. Nesse período, eles saem de águas frias, como Patagônia e Argentina, e migram para as águas quentes. As praias do sul de Santa Catarina e Rio Grande do Sul servem como atração por serem mais quentes pra eles. EN - Por que eles vêm para a nossa região?
Adelsa - Eles vêm para se alimentar e se reproduzir, desse modo, chegam à praia cansados do longo trajeto, usando da faixa de praia para descansar. EN - E o que podemos fazer ao avistá-los?
Adelsa - Quando se avista um animal marinho, o ideal é informar o Departamento do Meio Ambiente do município competente ou a Polícia Militar Ambiental. Se ele estiver machucado, será encaminhado ao Centro de Reabilitação de Animais Marinhos. Vários deles já são monitorados pelo PMP Laguna (Projeto de Monitoramento de Praias), podendo conter um chip ou marcação específica. Nunca orientamos a mexer no animal, isso vai estressá-lo e originar agressividade, o que não é necessário. Também não se deve alimenta-lo. Você pode observar seu comportamento, registrar o momento (sem o flash), mas não iluminar com farol ou cutucar o animal porque ele vai se irritar.
EN - Há algum órgão especializado que cuida desses animais?
Adelsa - A região Sul, de Arroio do Silva até Passo de Torres, é monitorada pela ONG Educamar, que tem total apoio da Polícia Militar Ambiental de Maracajá. Essa equipe é especializada em animais marinhos e sempre trabalha em parceria com os municípios.
EN - Observamos muitas focas, o que fazer?
Adelsa – Muitas pessoas confundem focas com lobos e leões-marinhos, as focas não acostam na nossa praia. Importante ressaltar que elas não andam, se locomovem com um pouco de dificuldade como se rastejassem devido as nadadeiras frontais muito curtas. O que avistamos em nossa praia são leões e lobos-marinhos.
EN - Qual a diferença entre um lobo-marinho e um leão-marinho?
Adelsa – Podemos destacar algumas diferenças bem óbvias entre os dois animais: focinho, orelhas e pelagem. Em exibição, costumam esticar o peitoral evidenciando “quem manda ali”. É possível observar o focinho pontudo nos lobos-marinhos e mais arredondados nos leões-marinhos, presença de orelhas em ambos e a pelagem imitando uma juba (no caso dos leões-marinhos).
EN- Encontramos tartarugas marinhas também? Adelsa - Encontramos em Balneário Gaivota este ano, 118 tartarugas, desde filhotes até adultos. Todos os espécimes foram identificados como tartaruga cabeçuda (Caretta caretta). Infelizmente todas estavam mortas e isso se deve ao lixo em alto mar porque confundem sacolas plásticas com águas vivas. Os canudos plásticos também são vilões nesse âmbito: eles se encaixam “perfeitamente” nas narinas do animal, levando a óbito por asfixia. Se não ajudarmos, se não fizermos algo contra a poluição, muitos animais não vão ser vistos pela próxima geração.
EN - Em Balneário Gaivota, os canudos podem ser utilizados?
Adelsa – Em 11 de agosto de 2021 foi aprovada e publicada a Lei nº 1.126, que proíbe canudos de plástico nos estabelecimentos e isso é muito importante para proteger o meio ambiente. EN- E o que precisa ser feito para mudar esse cenário? Adelsa – Educação Ambiental cada vez mais importante em todos os lugares. A conscientização, nada mais é do que capricho. O recomendável é levar sempre uma sacola para colocar os seus lixos na praia, pois a maré vai subir e vai levar os resíduos para o mar.
EN - Falando em lixo, há alguma coleta de resíduos em nossa cidade?
Adelsa - Começamos em 2017 com a campanha de coleta de lixo eletroeletrônico que ocorre a cada seis meses nas dependências da Prefeitura Municipal e recolhe variedades de eletrônicos, pilhas, baterias, lâmpadas, vidros e óleos de cozinha. A população entrega seus resíduos e recebe uma muda de árvore nativa pela colaboração com o meio ambiente que vivemos.
EN- Esse lixo, quando não descartado corretamente, é prejudicial à saúde?
Adelsa - Sim. Os resíduos contêm vários elementos químicos que contaminam o lençol freático, interferindo na qualidade da água (no caso de quem usufrui de ponteira ou poço artesiano) e prejudicam a nossa saúde.
EN - Qual o maior dano causado em Balneário Gaivota?
Adelsa - Os maiores são as construções irregulares em Áreas de Preservação Permanente - APP. Como a Legislação não permite edificações em faixas de dunas frontais (APPs), inúmeras são construídas de forma irregular, não possuindo autorizações dos departamentos competentes para as ligações de água e luz.
EN - A prefeitura faz algo para combater?
Adelsa – O Ministério Público Federal iniciou uma Ação Civil Pública em 2009 em desfavor ao município com o objetivo de recuperar a faixa de dunas frontais do nosso município, considerada Área de Preservação Permanente (APP). Um levantamento realizado pelo Ibama constatou 121 construções irregulares, identificados na APP. De lá pra cá, o município recebe manifestações jurídicas para atualizar esse levantamento e devendo informar ao MPF como está a situação da faixa de dunas.
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